índios e seu ciclo produtivo
A intensa e constante mobilidade espacial é característica dos povos indígenas que vivem na região. Tal mobilidade reflete a diversidade das atividades de seu ciclo produtivo, bem como a escala familiar em que são realizadas essas atividades. O calendário de atividades agrícolas é resultado do acúmulo de experiências desses povos ao longo de sua história. É no início do verão, a partir de julho, que se começa a procurar os melhores locais para fazer as roças; no decorrer dos meses de julho a novembro, sucedem-se as etapas de preparo da área, que envolvem derrubada, queima e coivara. No início das chuvas, por volta de dezembro, há o plantio, sendo que a colheita realiza-se durante todo o ano, conforme a época de produção das espécies cultivadas. Dentre estas, a mandioca brava é, sem dúvida, a planta de maior abundância nas roças, base da alimentação em toda a região. Só para se ter uma idéia da diversidade de cultivares existente, entre os Wajãpi encontram-se 43 variedades; entre os Aparai e Wayana, 38; e entre os Tiriyó e Katxuyana, 42. Ela pode ser colhida durante o ano todo, a partir das diversas roças manejadas por cada família.
Esta atividade segue o modelo de agricultura tradicional de outras populações indígenas amazônicas, caracterizada pelo ciclo de corte, queima, plantio e pousio. O trabalho é realizado de forma independente por cada grupo familiar, conduzido por seu chefe, que organiza mutirões com seus filhos, irmãos solteiros, cunhados e agregados. Após a limpeza do terreno, as mulheres assumem as atividades de plantio das diversas roças que cada família abre, concomitantemente, nos diferentes pontos de sua zona de ocupação. Cada família possui, em média, três roças produtivas, além de várias capoeiras. Capoeiras são roças antigas, frequentadas de tempos em tempos, nas quais ainda se encontram frutas, sementes e outras espécies plantadas na passado. Em geral, além da mandioca, planta-se milho, macaxeira, batata-doce, banana, cará, jerimum, cana-de-açúcar, abacaxi, caju, melancia e várias outras espécies. Também se planta limão, laranja, e outras frutas, além de pimenta, cacau, fumo, urucum, flecha, algodão e cabaças nas roças e ao redor das aldeias.
Cada casal possui entre uma e três roças em diferentes estágios de desenvolvimento. As roças situam-se, preferencialmente, próximas à aldeia, em local escolhido ou aceito pelo fundador ou chefe da aldeia, de acordo com critérios como a qualidade do solo, o regime das chuvas (terrenos não alagadiços), a incidência de pragas (saúvas) e animais (porcos-do-mato, etc.)
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