Antiquário
Antiquário (do latim antiquarius, aquele que gosta de antiguidades) pode designar tanto um entusiasta, admirador ou comerciante de coisas antigas, quanto um estudioso que se dedica à investigação sobre as antiguidades, isto é, todo tipo de evidência material ligada ao passado. O antiquariato é a modalidade de pesquisa dos estudos históricos desenvolvida pelo antiquário desde a Antiguidade até o final do século XIX, caracterizada por uma abordagem que inclui a erudição, a categorização, a descrição sistemática e o levantamento de fontes. O papel da pesquisa antiquária é avaliado por muitos como fundamental para o desenvolvimento metodológico de disciplinas históricas, particularmente a história e a arqueologia.
As origens da pesquisa antiquária são identificadas nas civilizações da antiguidade situadas no Antigo Egito, na Mesopotâmia, na Grécia Antiga, na Roma Antiga e na China. Dentre as características principais do antiquariato neste período, pode-se citar o forte vínculo da pesquisa com a religião e a política, tendo em vista o fato de que todas elas buscaram, de alguma forma, restaurar tradições culturais e cultos religiosos do passado através do estudo sobre as suas evidências materiais, cada uma à sua maneira. No período medieval, estudos indicam a existência do antiquariato na Europa desde a Alta Idade Média, praticado por governantes e membros da aristocracia. Há bastante controvérsia sobre o caráter e a relevância do antiquariato nas sociedades europeias, sua relação com os antiquários romanos e o peso do poder eclesiástico na sua orientação. Enquanto alguns percebem a influência do antiquariato romano desde o século VIII, outros afirmam que esta só viria a acontecer a partir do século XV. Os estudos sobre o antiquário chinês neste período concordam que a investigação sobre as antiguidades torna-se significativa a partir do século XI, durante a Dinastia Song, com a publicação das primeiras obras que compuseram a base de uma tradição de pesquisa continuada nos séculos seguintes, pautada especialmente no comentário extensivo sobre fragmentos epigráficos.
No decorrer dos séculos XV, XVI e XVII, muitos pesquisadores consideram que houve uma gradativa retomada dos conceitos romanos da pesquisa antiquária, que valorizavam o estudo do passado clássico, assim como uma abordagem que se baseava nas técnicas específicas operadas pelos antiquários antigos, como a escrita sistemática e descritiva, em decorrência de um movimento de renovação dos estudos sobre as línguas clássicas no contexto europeu. Segundo esta perspectiva, o antiquariato renascentista teria se iniciado na Itália do Quattrocento, e a partir de então se espalhado por boa parte da Europa na forma de uma metodologia científica organizada. Neste período, o antiquariato não foi de menor importância na China, que deu sequência aos estudos epigráficos dos séculos anteriores, embora alguns estudos apontem um declínio dos estudos antiquários entre os séculos XV e XVII. Entre os séculos XVIII e XIX, para grande parte dos estudiosos no tema, houve o ápice da pesquisa antiquária, reunida em torno de diversas sociedades eruditas que se difundiram pela Europa. O antiquariato europeu moderno travou um intenso diálogo com outras disciplinas históricas, como a história e a arqueologia. Uma das características centrais do antiquário, no século XVIII europeu, foi a preferência pelo estudo das antiguidades regionais, que se tornavam objetos de diversas pesquisas que tinham por objetivo a restauração do passado regional das nações europeias, não se limitando à antiguidade clássica. Também no caso chinês considera-se o século XVIII como o apogeu do antiquariato, levado a cabo por estudiosos da Dinastia Qing. No que diz respeito ao Japão, estudos afirmam que, no decorrer do setecentos, a pesquisa antiquária já se difundia na sociedade, sendo incorporada por diferentes grupos sociais. No Brasil, alguns elementos do antiquariato moderno influenciaram estudiosos ligados a instituições vinculadas aos estudos históricos, como a Academia Brasílica dos Esquecidos, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

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