Nós assistimos o jogo ou ao jogo?
Nós assistimos o jogo ou ao jogo? Bia namora com Pedro ou Bia namora Pedro? Minha mãe esqueceu o remédio ou esqueceu do remédio? Esses são apenas alguns dos exemplos mais comuns de dúvidas que aparecem durante o uso corriqueiro da Língua Portuguesa, seja para falar ou escrever. É verdade que nos diálogos do dia a dia, quando a linguagem é naturalmente mais coloquial, dificilmente nos preocupamos em nos expressar impecavelmente. Mas, quando precisamos escrever, a história é outra!
Esses questionamentos que foram usados para exemplificar o assunto estão relacionados a um conteúdo gramatical chamado de regência verbal. Compreendê-lo e conhecer os seus mecanismos é fundamental para qualquer falante nativo da língua. Portanto, chegou o momento de esclarecer todas essas dúvidas e não errar mais, nem falando e nem escrevendo!
Podemos definir o termo regência verbal como a relação estabelecida entre o verbo e os complementos que lhe dão sentido dentro de uma oração. Por isso, é preciso saber que existem quatro tipos de verbos que podem aparecer em uma frase:
- Verbo Intransitivo – V.I. – não precisa de nenhum complemento para ser totalmente compreendido;
- Verbo Transitivo Direto – V.T.D. – precisa de um complemento (objeto direto) e é ligado a ele sem nenhuma preposição;
- Verbo Transitivo Indireto – V.T.I. – também precisa de um complemento (objeto indireto), mas há uma preposição que o liga a esse elemento;
- Verbo Transitivo Direto e Indireto – V.T.D.I. – precisa de dois complementos, objeto direto (que é um dos verbos sem preposição) e objeto indireto (outro com preposição).
É importante deixar claro que não há como dizer a qual dessas categorias pertence um verbo isoladamente, sem que ele esteja inserido em um contexto. Isso porque o verbo pode assumir posições diferentes dependendo do sentido da oração e essa é uma das maiores dificuldades quando o assunto é regência verbal.
Nós assistimos o ou ao jogo?
Veja esse e outros exemplos de regência para entender como isso tudo funciona na prática. Quando o verbo assistir é usado no sentido de ver, presenciar, ele é um Verbo Transitivo Indireto, exigindo o uso da preposição:
- Nós assistimos ao jogo;
- Meu irmão assistiu ao filme;
- Minha mãe gosta de assistir à novela.
Menos comum, mas também possível, é ver esse verbo sendo usado no sentido de residir. Nesse caso, ele também é transitivo indireto, precisando de preposição:
- O candidato assiste em São Paulo.
Por fim, quando a palavra assistir assume o sentido de atender, prestar auxílio, ela se torna um Verbo Transitivo Direto, dispensando o uso de preposição:
- A enfermeira assistiu o paciente;
- O professor assistiu a aluna.
Verbos Lembrar e Esquecer
Em ambos os casos, quando os verbos são acompanhados pela partícula “se”, assumem a função de V.T.I., exigindo a preposição. Já quando eles estão sozinhos, são V.T.D. e a preposição não pode ser utilizada. Veja alguns casos:
- Minha mãe esqueceu as chaves / Minha mãe esqueceu-se das chaves;
- João lembrou o nome do amigo / João lembrou-se do nome do amigo.
Ambos são Verbos Transitivos Indiretos, no entanto, são regidos pela preposição “a”, e não “em”, como a maioria das pessoas costuma utilizar. Por exemplo:
- Eu cheguei à cidade;
- Ela foi ao país.
Esse verbo pode ser usado em frases absolutamente iguais, mas produz sentidos diferentes. Quando é transitivo indireto, ou seja, quando falamos em agradar a alguém, significa satisfazer suas vontades. Mas, quando aparece como transitivo direto, ou seja, agradar alguém, é sinônimo de acariciar. Veja exemplos:
- O pai agrada a criança – acaricia;
- O pai agrada à criança – satisfaz suas vontades.
A título de curiosidade, quando isso acontece, dizemos que o verbo tem dupla transitividade.
É Verbo Transitivo Direto, portanto, não pode haver preposição:
- A moça ama o rapaz;
- Eu amo aquela pessoa.
Quando é utilizado no sentido de ter um objetivo, uma meta, é um Verbo Transitivo Indireto, acompanhado de preposição. Já se aparecer no sentido de vistoriar, não precisa de preposição, pois se torna um Verbo Transitivo Direto, como nos casos:
- O aluno visa à aprovação no vestibular;
- O professor visou às provas.
Pode ser usado no sentido de sentir o cheiro, sendo transitivo direto. Mas precisa de preposição se estivermos falando de um objetivo:
- A menina aspirou o perfume da flor;
- O rapaz aspira ao sucesso profissional.
Classificação de Verbos V.T.D.I.
E quando um verbo pode ser classificado como V.T.D.I.? Vamos ver alguns casos:
- O pai deu o presente à filha – o verbo dar tem um objeto direto e sem preposição (presente) e outro indireto e com preposição (filha), pois trata-se de dar algo a alguém. Objeto direto e indireto coexistem.

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